terça-feira, 19 de junho de 2012

Um caso comprovado de reencarnação

O CASO JACIRA X RONALDO


APRESENTAÇÃO


                        O que vai ser exposto resultou das investigações acerca das recordações e do comportamento manifestados por uma garotinha, desde a idade aproximada de um ano, nascida no dia 31 de outubro de 1956.

            Os nomes reais das personagens, bem como os dos locais onde os fatos se desenrolaram foram necessariamente mudados a pedido da família da paciente. Seus parentes temem ser molestados por curiosos indesejáveis. Além disso, como houve a ocorrência de suicídio da personalidade anterior, isto contribuiu mais ainda para essa atitude dos familiares de Jacira.

            O Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas  - IBPP mantém em seus arquivos o documentário completo deste caso, o qual se compõe de fitas gravadas dos depoimentos das testemunhas, fotografias e outros elementos comprobatórios.

            O presente caso é do tipo “resolvido”, isto é, a personalidade anterior é conhecida, bem como os detalhes a respeito de suas características pessoais.

            As transcrições dos depoimentos foram mantidas fielmente em seu tom coloquial, conforme o extraído das gravações. Em nossos trabalhos, temos procurado manter, sempre que possível, a íntegra dos depoimentos obtidos das testemunhas, sem preocupar-nos com os rigores gramaticais.


H I S T Ó R I C O

PRELIMINARES


Em 1971, na cidade de Curitiba,Paraná, fomos informados acerca deste caso, pela Sra. Isaura Leite do Canto. Ela forneceu-nos o endereço de seu irmão, o qual conhecia a família da paciente, em Penápolis, no interior do Estado de São Paulo.Naquele mesmo ano, dia 26 de setembro,foi obtido o primeiro depoimento gravado do pai da paciente pelo nosso correspondente,Sr.Joaquim Norberto de Camargo, morador na referida localidade. O depoimento era animador. Devido a uma série de imprevistos passaram-se quase dois anos sem que pudéssemos tratar do presente caso.

Somente em 14 de fevereiro de 1973, conseguimos entrar em contato direto com o Sr.António B.Munhoz, pai da paciente , solicitando, por carta, uma entrevista pessoal em data que seria por ele escolhida. Fomos amavelmente atendidos. Entretanto, o Sr.António B. Munhoz declarou em sua resposta: -"A única coisa que quero observar é que a Jacira não sabe e eu prefiro que ela continue ignorando o fato." (sic).

Pela observação do Sr.Munhoz,percebemos que a paciente tivera as recordações na primeira infância, tendo-as esquecido após a puberdade. Esse fato é comum nos casos de lembranças reencarnatórias surgidas nesse período. Entretanto não atinamos com o motivo do segredo mantido pelos pais.Posteriormente ficamos sabendo que a personalidade anterior cometera suicídio. Recomendações rigorosas de "espíritos orientadores" determinavam o sigilo, pois "se Jacira viesse a saber do ocorrido,poderia tentar novamente o suicídio, quando atingisse a mesma idade em que faleceu a personalidade anterior." (sic)

Em 17 de agosto de 1973 fizemos a primeira visita pessoal à família de Jacira, em sua residência. Naquela ocasião obtivemos amplas informações sobre o caso, e o segundo depoimento gravado. Após ganhar a confiança dos familiares, pudemos convencer os pais de Jacira de permitir que revelássemos a ela o motivo da nossa visita. A paciente mostrou-se agradavelmente surpresa ao certificar-se de que supúnhamos ser ela própria a reencarnação de seu falecido tio Ronaldo. Disse-nos que, embora seus pais tivessem evitado até então revelar-lhe aquele segredo, ela recebia com prazer a informação que lhe transmitíamos. Dispôs-se cordialmente a colaborar conosco. Todavia, cientificou-nos de que já não se recordava mais dos fatos de sua vida passada, embora tivesse vago pressentimento de que tivera uma outra encarnação relacionada com sua avó, D.Odila.

Jacira é uma bonita adolescente de aspecto sadio e esportivo. É bem humorada, educada e comunicativa. Gosta de vestir-se muito simplesmente, preferindo camiseta e calça comprida. Não usa e parece não apreciar enfeites. Pelo que soubemos não teve, até aquela ocasião (17 anos), nenhum namorado, aparentando certo desinteresse pelo sexo oposto. Embora fisicamente feminina e bela, manifesta um modo de ser menos feminil que o normal. Não usa enfeitar-se e nem parece ser vaidosa. Quando a reencontramos, em nossa segunda visita, dia 14 de maio de 1974, ela nos contou que já tinha um namorado. Mas não notamos grande entusiasmo de sua parte, relativamente a esse fato.



A família de Jacira é de padrão médio, do tipo tradicional do interior, gente simples, educada e acolhedora. O ambiente familiar é tranquilo e muito afetivo. Nota-se amorosa cordialidade no relacionamento entre todos os membros da família. O pai, Sr.António B.Munhoz, nasceu em 1916. Mecânico especializado em aparelhos de refrigeração, é um homem aparentemente calmo e carinhoso para com os filhos. A mãe da paciente, Da. Martha G.Munhoz, é uma eficiente e afável dona de casa, normalmente rodeada pelos filhos e netos, aos quais dedica todo o seu tempo. O casal é realmente muito simpático. Talvez por isso, alguns dos filhos já adultos ainda moram com os pais ou freqüentam muito a sua casa. Ao todo, são seis os filhos do casal.

A maior parte das informações foram fornecidas pelos pais.Devido ao cuidado que sempre tiveram em ocultar de sua filha os acontecimentos ligados à personalidade anterior,
obviamente evitaram comentar, até mesmo com os demais filhos e parentes, as perguntas e as referências concernentes ao falecido Ronaldo, que a paciente fazia aos progenitores quando era pequena ainda. Nos relatos de Da. Martha, a respeito dos episódios relativos às recordações de Jacira, percebe-se o extremo cuidado da mãe em não estimular os diálogos com a filha, desviando o assunto ou fazendo-se de desentendida. Esse fato provocava certa irritação em Jacira, quando criança, a qual insistia em ser esclarecida acerca dos episódios relembrados e relacionados com a personalidade anterior.

Os parentes da D. Martha são católicos-romanos. Para eles a reencarnação não tem sentido. Este era mais um motivo para que o assunto ficasse restrito apenas aos pais da paciente. Quando, em 15 de maio de 1974, visitamos D.Odila, avó de Jacira e residente na cidade de Lins, notamos que ela ignorava o fato. D.Martha já nos havia alertado a esse respeito também.

As demais testemunhas ouvidas foram a Sra.Angelina F.Botassi, que serviu como médium nas comunicações do "espírito" de Ronaldo (personalidade anterior); a Sra.Antónia da Silva; o Sr.Hélio Alves, que presidia as sessões na ocasião; e a Sra.Maria Alves, esposa do Sr.Hélio. Todas essas pessoas referiram-se principalmente aos episódios relativos às sessões mediúnicas em que houve manifestação do "espírito" de Ronaldo e de uma outra entidade implicada no caso. Infelizmente não puderam fornecer maiores detalhes concernentes às passagens da primeira infância de Jacira. Os cuidados para que o caso não se extravasasse além do âmbito familiar, restrito aos pais e à paciente, foi a principal causa dessa situação.Encontramos as mesmas dificuldades com relação aos irmãos da paciente. Na infância de Jacira, eram ainda muito jovens para prestar atenção e reter a lembrança dos fatos. O que eles sabiam eram informações fragmentárias partidas dos próprios pais, os quais evitavam, naturalmente, propalar os acontecimentos, a fim de que Jacira não viesse a tomar conhecimento da sua condição, mesmo indiretamente.

Entretanto, os depoimentos do Sr.Hélio Alves e de sua esposa, Sra.Maria Alves, são relevantes e merecem atenção. Apesar de estar esquecido de muitos pormenores da ocorrência, o Sr. Hélio afirmou que se recordava de detalhes relevantes de uma comunicação do espírito da personalidade anterior, pouco antes de se reencarnar. Referindo-se à identidade do comunicante, o Sr.Hélio declarou:

 – "Assim que o Espírito se comunicou, nós sabíamos tratar-se do irmão da esposa do Sr.Munhoz, que estava dando a comunicação. Era o espírito do irmão dela, que havia se suicidado. E a comunicação era de tal maneira dirigida à esposa do Sr.Munhoz, que nós imediatamente sentimos a emoção do espírito tratando com carinho a irmã e também agradecendo as preces que se fazia em benefício dele. Informava que em breve voltaria a reencarnar-se. No caso, seria no lar do Sr.Mulhoz."

Uma observação interessante feita pelo Sr. Hélio Alves diz respeito ao comportamento da mãe de Jacira: – "A esposa do Sr. Munhoz foi sempre uma senhora muito reservada. Ela nunca era expansiva em contar as artes dos filhos, nem nada. Ela era uma pessoa muito fechada." Talvez esse fato seja explicado pelo seu receio de que o caso viesse a ser divulgado.

Solicitados a descrever o comportamento da paciente na infância, o Sr.Hélio e sua esposa afirmaram que ela tinha atitudes e modo de ser que lembravam antes um menino do que uma menina: – "Tipo garotão, mais disposta, modo de cortar o cabelo curtinho. Ela vivia correndo pelos quintais, terrenos baldios, subindo em árvores, pulando muros; enfim,
brincadeiras mais violentas do que as de uma menina... Entretanto era uma criança muito carinhosa e muito meiga" , comentaram eles. O Sr. Hélio e sua esposa declararam, ainda,que Jacira fora estrábica quando pequena. Esse defeito corrigiu-se espontaneamente. Ronaldo fora estrábico também, informaram eles.

*  *  *  *  *

FATOS RELEVANTES QUE ANTECEDERAM O NASCIMENTO DE JACIRA


No dia 15 de janeiro de 1951, faleceu na cidade de Lins,Estado de São Paulo, Brasil, com a idade de 28 anos, o jovem Ronaldo Gomes Barroso. A "causa mortis" foi suicídio por envenenamento com "formicida" dissolvido em guaraná.

Ronaldo era filho do Sr.João Gomes Barroso e de Da.Odila A.Barroso. Ele tinha nove irmãos. Um deles era seu irmão gêmeo, e tinha o nome de Romildo.

A irmã mais velha de Ronaldo chama-se Martha G.Munhoz. Ela é casada com o Sr. António B.Munhoz. D. Martha fora a pajem dos seus irmãos mais novos, dentre os quais distinguia o Ronaldo, com especial afeição.

Ronaldo não revelou a ninguém os motivos de seu ato de desespero. Ele estava noivo de uma moça, Alice (atualmente casada). Mas, ao que parece, não havia nenhuma divergência
entre eles que pudesse ter dado motivo ao suicídio. Ronaldo tinha uma sobrinha de criação, filha adotiva de D. Martha, cujo nome é Juraci e à qual votava muita afeição. Juraci foi a única pessoa a quem ele confessou sua intenção de suicidar-se. Dois dias antes, dissera à sua sobrinha: – "Juraci, eu vou me matar. Mas você não deverá contar isso a ninguém. Se o fizer eu ficarei de mal com você."

D. Martha morava em Penápolis, cidade próxima de Lins. Ronaldo achava-se em visita à irmã. Ele se despediu na noite de uma sexta-feira, dia 13 de janeiro de 1951, dizendo que iria para Lins. Na realidade ele seguiu para essa cidade somente no domingo, dia 15, à noite. Chegou em Lins às 21 horas mais ou menos. Tomou um banho e foi encontrar-se com
seus amigos. Mais tarde regressou para casa. Recolheu-se ao leito e, após ter-se levantado e dirigido ao banheiro onde preparou o veneno, entrou no seu quarto e daí a instantes gritou por socorro, depois de haver ingerido o formicida. Manifestando contorções e ânsias dolorosas, expirou assistido pela mãe e alguns parentes.

D. Martha ficou extremamente abalada com a morte de Ronaldo. Passados quase cinco anos, a lembrança da tragédia entrou a reavivar-se em sua memória. Sr.Munhoz era espírita e
preocupava-se com o estado de sua mulher. Embora ela fosse de origem católica, estava se iniciando no Espiritismo. De vez em quando, o Sr . Munhoz levava-a a um "Centro Espírita"
do qual era presidente o Sr.Hélio Alves. Funcionava como principal médium a Sra. Angelina F.Botassi. O Sr.Munhoz procurava, por este meio, aliviar o estado de angústia em que se encontrava D. Martha. Em janeiro de 1956, ela passou a ter freqüentes sonhos, durante os quais via o falecido irmão em desespero: –"Em sonhos, eu me via em uma carruagem
que seguia rápida em meio a uma tempestade. Eu o via apavorado, correndo no meio do temporal enquanto caíam os raios e eu gritava. Contei os meus ao meu marido. Este
sugeriu que fôssemos ao centro espírita para orar pelo Ronaldo", disse ela.

Descrevendo o que se passou no Centro, naquela ocasião, D. Martha relatou o seguinte: –"Lá chegando, meu marido começou a orar por ele (Ronaldo). Então D. Angelina foi tomada pelo espírito do Ronaldo, que estava desesperado... Disse que não sabia o que havia feito e que só após muito tempo ficou sabendo, porque foi levado ao suicídio por um obsessor e só depois de algum tempo foi libertado. Ele agora queria voltar, mas com o apoio do meu marido que havia sido para ele como um pai, pois quando nós nos casamos ele ainda era pequenino. Disse que somente meu marido poderia ajudá-lo... Ele dizia:- "Você vai me ajudar. Eu espero que você me ajude!" Na volta para casa eu disse ao meu marido (nessa época o filho mais novo do casal tinha quatro anos) que talvez iríamos ter mais um filho. Meu marido perguntou por que, e eu então lhe disse que havia entendido que o Ronaldo queria reencarnar. Não obstante, meu marido argumentou, dizendo que eu havia interpretado mal e que a ajuda pretendida pelo Ronaldo se referia ao esclarecimento de seu Espírito".

Apesar da opinião do marido. D. Martha julgava que o comunicante se referia à possibilidade de um novo nascimento em seu lar. Os seus sonhos continuavam a repetir-se e os quadros eram invariavelmente os mesmos.  –"A carruagem seguindo rápida em meio à tempestade, os raios, gritos de desespero, o Ronaldo solicitando socorro...", explicou ela.

Em fevereiro de 1956, algum tempo após a sessão em que o espírito de Ronaldo fez seu apelo ao cunhado e à irmã, organizou-se uma outra sessão durante a qual fizeram breves preces pelo morto. Compareceram algumas pessoas e entre elas a mesma médium, D. Angelina F.Botassi. A reunião teve lugar na própria residência do Sr. António B. Munhoz.

Durante a sessão, D. Angelina entrou em transe, manifestando-se então o seu Guia espiritual, denominado "Mãe Cristina".  Eis como D. Martha descreveu este episódio:

 –"Durante a sessão, a "Mãe Cristina" perguntou-me se eu estava disposta a mais um sacrifício. Eu respondi que, se dependesse de mim, estaria disposta. Ela avisou que iria ser duro, que eu precisaria ter muita coragem. Meu irmão iria voltar, mas não seria fácil a reencarnação dele. Ela disse que, assim que eu me sentisse grávida, teria de fazer sessões de preces ao menos uma vez por semana, para poder conseguir a reencarnação dele. Aí eu perguntei se não havia perigo, devido ao fato de haver ele bebido formicida, de eu ter uma criança com defeitos no organismo. Ela respondeu que a criança não viria defeituosa; quem sofreria as conseqüências seria eu. Daí a um mês senti que estava grávida e então começou: Tudo o que eu pegava para comer parecia estar contaminado pelo formicida."

Em seu depoimento o Sr.Munhoz refere-se a particularidades relevantes ligadas à anunciação do nascimento de Jacira. Vamos transcrever, na íntegra, suas três declarações concernentes a esse episódio. A primeira foi feita aos 26 de setembro de 1971,em Penápolis, quando de sua primeira entrevista gravada pelo nosso correspondente naquela cidade:

            – "Passou o mês de janeiro. Quando foi no fim de fevereiro, estávamos numa reunião particular que fazíamos para a Diretoria do grupo e veio o espírito que orientava os trabalhos da casa. Ele então me disse que aquele espírito, do meu cunhado, ia reencarnar em minha casa e que minha senhora já estava grávida. Nós ignorámos isso ( a gravidez de D. Martha ) quando o espírito informou que ele devia reencarnar em nosso lar. Mas o espírito disse claramente que, na existência passada, ele fracassara como homem e que Deus tinha concedido a ele voltar a reencarnar, porém iria reencarnar como mulher."

Em 17 de agosto de 1973, na cidade de Penápolis, quando gravamos o segundo depoimento, ele declarou o seguinte:

– "Comunicou-se então um espírito, ao qual chamamos de "Mãe Cristina", e esse espírito anunciou, embora nem eu nem minha esposa o soubéssemos, que minha esposa estava grávida e que o espírito que se reencarnaria seria o de Ronaldo, embora desta vez com o sexo feminino, como mulher."

Por ocasião da nossa segunda visita àquela família, em Penápolis, dia 14 de maio de 1974, tomamos o terceiro depoimento gravado do Sr.Munhoz. Suas declarações ratificam o que afirmara anteriormente:

– "Um dia, estávamos numa reunião particular que nós costumávamos fazer uma vez por mês, para orientação, e veio o espírito de "Mãe Cristina". Comunicou-se e revelou que
Martha estava grávida. Nem ela nem eu sabíamos que ela estava grávida. Aí o espírito disse que o Ronaldo havia reencarnado em casa, só que não seria homem, seria mulher."

Jacira nasceu em 31 de outubro de 1956. Retroagindo nove meses para trás, vê-se que, realmente, em fins de janeiro de 1956, D. Martha já devia ter concebido. Desse modo, em
fevereiro de 1956, quando o espírito de "Mãe Cristina" avisou que o Ronaldo já estava em processo reencarnatório, a informação era correta, embora D. Martha não sentisse ainda
os sintomas da gravidez.

A informação sobre a troca de sexo também foi correta. No final os pais já estavam tão certos disto que, por sugestão de uma amiga muito íntima da família, de nome Margarida,
haviam previamente escolhido o nome da futura filha: Jacira.

Outro pormenor relevante comunicado a nós, em 14 de maio de 1974, pelo Sr.Munhoz e sua esposa, foi que, inicialmente, ambos alimentavam certo ceticismo quanto à anunciada
reencarnação de Ronaldo em seu lar. A razão dessa descrença fundamentava-se no seguinte fato: os filhos de D. Martha eram bem grandes ao nascer. Isso acarretava sempre partos
muito difíceis, exigindo posterior cirurgia plástica corretiva. Com o nascimento de Adauto, em 24 de março de 1952, o médico aconselhou que se fizesse a ligadura das trompas de D. Martha, a fim de poupá-la de futuros partos mais complicados. A operação foi feita. Em vista disso, após quatro anos sem ter engravidado, e estando já com 39 anos, ela não esperava mais conceber. Entretanto, assim mesmo, ocorreu a anunciada gravidez. O fato em si nada tem de
extraordinário, pois em caso de apenas ligadura das trompas pode, acidentalmente, dar-se a fecundação, se a operação não foi bem feita. E deve ter sido isso o que ocorreu, pois
D. Martha ainda teve mais um filho, Everton, nascido em 28 de junho de 1961, cinco anos depois de Jacira. Mas, na ocasião em que o espírito de "Mãe Cristina" fez as suas revelações, tanto o Sr. Munhoz como sua mulher duvidaram da exatidão das informações, admitindo a possibilidade de ter havido interferência inconsciente da própria médium nas comunicações dadas. Somente depois que o médico confirmou que D. Martha se achava realmente grávida, é que passaram, ainda com certa relutância, a admitir os fatos revelados mediunicamente. A certeza firmou-se, mais tarde, com os acontecimentos que se desenrolaram durante o penoso período de sua gravidez.

Conforme o Guia espiritual de D. Angelina preconizou, Da. Martha teria uma filha sadia, apesar de a personalidade anterior haver cometido o suicídio. Tanto o Sr.Munhoz como sua esposa estavam temerosos das conseqüências do envenenamento de Ronaldo. Declarado tal receio, o espírito disse que D. Martha é quem sofreria as conseqüências e consultou-a se estaria disposta àquele sacrifício pela futura filha. Ela aceitou o desafio. E, de fato, os acontecimentos mais uma vez confirmaram as palavras do Guia:

– "Minha boca ficava em feridas, em carne viva. Eu sentia que era roída por dentro e então caía. Minha irmã disse que às vezes começava a tremer e parecia estar morrendo. Era preciso fazer-se preces para que eu voltasse ao normal" , contou-nos D. Martha.

Em seguida relatou-nos mais outro episódio doloroso. Quando já estava no oitavo mês de gestação, ela perdeu os sentidos e caiu, afetando seriamente a criança que estava para nascer. Esta parou de dar sinais de vida. Todos se apavoraram e procuraram recursos e conselhos com o Guia espiritual. Este os acalmou, afiançando-lhes que a criança seria salva. Receitou o chá de uma erva, cujo nome é funcho.
– " Só tomei esse chá, chá de funcho; ela começou a movimentar-se e não tive mais
problemas" , disse ela. Finalmente o parto veio a termo: "Eu sofri muito para Jacinta nascer. Eu adoeci às nove horas da noite e ela só foi nascer no outro dia à uma hora da tarde. Ela nasceu em casa, com parteira e de parto normal. D. Angelina assistiu o parto e falou que foi confirmado, no momento em que Jacira nasceu, que havia sido o espírito dele (do Ronaldo) que havia voltado", finalizou D. Martha.

Após o parto, todos os sintomas mórbidos, o gosto e cheiro de formicida, a irritação da boca e do tubo digestivo, a sensação de queimação provocada pelos alimentos, os vômitos fétidos que ocorriam freqüentemente à noite, os desmaios, tudo desapareceu como que por encanto.

Jacira nasceu pesando cinco quilos. Era uma menina sadia e sem defeito algum.

A INFÂNCIA DE JACIRA


A primeira infância de Jacira decorreu sem incidentes.Notou-se apenas que ela apresentava estrabismo em ambas as vistas, defeito este que se corrigiu naturalmente após um ano de idade. É relevante relembrar que Ronaldo sofria de estrabismo duplo também.

Ela revelou-se uma garota precoce. Aos nove meses aprendeu a andar. Aos dez meses já pronunciava algumas frases. Aos onze meses começou a fazer as primeiras referências à sua encarnação anterior, inquirindo a mãe acerca da dualidade do seu relacionamento familiar. Nessas ocasiões mostrava estranheza quanto ao seu novo parentesco com os tios, que foram irmãos de Ronaldo, e com a própria avó e D. Martha:

– "Você era minha irmã. Como é que agora é minha mãe? E aquela minha outra mãe que mora em Lins ? Como ela é minha avó agora, se ela era minha mãe antes ?", inquiria ela.

As referências da paciente a fatos de sua vida anterior começaram a ter maior frequência após os 18 meses de idade, crescendo de intensidade até os quatro anos, mais ou menos. Posteriormente, ao atingir a puberdade, a memória dos fatos extinguiu-se totalmente, restando apenas certos reflexos e características de comportamento.

Seus pais sempre cuidaram para que o caso não transpirasse, pois temiam que Jacira se conscientizasse da sua condição e viesse a reincidir na mesma falta da personalidade anterior.
E conforme Da. Martha mesmo explicou, Jacira preferia esclarecer suas dúvidas com os pais:

– "Ela gostava de conversar apenas entre nós. Às vezes ela falava assim: – "Martha, você não se lembra, você não pode lembrar. Você nem sabe onde nós morávamos, só a mamãe que sabe." Referia-se à Da.Odila (a avó) como sendo sua verdadeira mãe e mostrava, por essas palavras, o seu desapontamento quando D. Martha fingia estar esquecida dos episódios ocorridos na chácara em São Bernardo do Campo, onde moraram inicialmente. Esta preferência em procurar seus pais para esclarecer suas dúvidas era perfeitamente natural. E isso facilitava, até certo ponto, a manutenção do sigilo. Mas, assim mesmo, D. Martha angustiava-se com a possibilidade de as recordações de Jacira se avultarem e, mais tarde, ela vir a cometer o suicídio, conforme o Guia de D. Angelina houvera advertido.

É fácil compreender o drama da mãe da paciente e o seu conseqüente comportamento diante dessa situação. O Sr.Munhoz declarou-nos, em 17 de agosto de 1973, quando da nossa
primeira visita:

– "Às vezes eu chegava do serviço e encontrava minha esposa desesperada, chorando, e a causa era a conversa havida entre ela e Jacira, que começava a recordar-se dos fatos anteriores em que ela dizia ter morado em cidade grande, em São Bernardo do Campo, numa chácara e que se lembrava da casa e da cor da casa... Lembrava-se da casa, do local, do açude onde pescavam e lavavam roupa. Tinha todas as recordações e começava a fazer perguntas para a mãe sobre essas coisas... e a mãe começava a chorar, pois ficava nervosa, pensando que ela poderia vir a morrer mais tarde ou suicidar-se como havia se suicidado o Ronaldo."

As descrições de Jacira, concernentes ao local em que a personagem anterior vivera, eram muito precisas, incluindo a forma e as divisões da casa, o caminho em declive que
conduzia ao açude e outros detalhes.

Além dos acidentes da paisagem onde Ronaldo passara sua meninice, Jacira recordava-se das ocorrências que deviam ter-se marcado mais na lembrança da personalidade anterior. Um dos episódios que ela mais evocava incluía uma vaca de cujo nome ela se lembrava perfeitamente. Era a vaca "Morena", que certa vez escapou do curral e investiu contra Ronaldo e seus irmãos, pondo-os em pânico. Salvaram-se graças à intervenção do irmão mais velho de D. Martha, o João, o qual conseguiu empurrá-los para dentro de casa,
evitando um desastre sério. O susto deve ter-se gravado profundamente na memória do Ronaldo, pois Jacira repetidas vezes mencionou o incidente à D. Martha e ao Sr. Munhoz.

No sentido de tornar mais objetivo o presente relatório, organizamos uma Tabela de Recordações da Paciente, onde procuramos grupar por categorias as principais lembranças
manifestadas por Jacira, durante o período de sua infância.

TABELA DAS RECORDAÇÕES DA PACIENTE


1 –       Desde pequena, manifestava aversão a líquidos de coloração vermelha. Relacionava com o veneno a cor vermelha de um líquido qualquer.

            D. Martha declarou que Jacira, desde que começou a falar, ao ver um líquido vermelho dizia:

            – "Põe isso para lá que eu não quero tomar este veneno"

            Quando D. Martha fazia groselha, ela dizia:

– "Vocês podem morrer; eu não quero morrer."

            Se a obrigassem a tomar o refresco, ela imediatamente vomitava o líquido ingerido. Jacira declarou pessoalmente a nós, em 14/5/1974, que ainda sente forte aversão pela cor vermelha em objetos ou vestuários.

            Na entrevista pessoal que tivemos com o Sr.Munhoz, em Penápolis, dia 14/5/1974, este contou-nos que verificou pessoalmente que a cor da mistura ingerida pelo Ronaldo era vermelha:

            – "Debaixo da cama estava a garrafa de guaraná, tirado só um pouquinho numa xícara de chá, e tinha um resto lá completamente vermelho da mistura do formicida com o guaraná", esclareceu o Sr. Munhoz.

2 –       Desde a idade de um ano, Jacira evitava ver a fotografia da personalidade anterior.

D. Martha declarou:

            – "Ela não queria ver a fotografia do Ronaldo. E quando nós a mostravamos, ela dizia:
– "Tire isso para lá, leva isso para lá!"

            Atualmente não manifesta mais esta aversão.

3 –      Quando ainda pequena, Jacira mostrava desagrado ao ver o cartão de lembrança da "missa do 7º dia", referente à morte de Ronaldo. Costumava rasgar os que caíssem em suas mãos.

D. Marta referindo-se a este episódio esclareceu:

– "Era aquela lembrança que a gente faz da missa do 7º dia e que tinha fotografia dele(do Ronaldo). Os que ela pegou, ela rasgou. Ela dizia:" -"Pr'a que!? Eu não morri! Por que está isto aqui?"
            – "Quando ela via, pois tinha a fotografia dele, ela rasgava e jogava fora. Era bem pequena."

4 –      Referia-se a traquinagens da personalidade anterior, particularizando os cuidados da D.Marta para que ela não corresse e viesse a cair em um rio que passava pelo sítio onde viveram seus pais e irmãos.

D. Martha fora pajem do Ronaldo e cuidava para que ele não caísse no rio que existe no local onde moraram anteriormente. Jacira referia-se a esse lugar dizendo:

            – "Mãe, a senhora lembra daquele dia em que eu corria e a senhora gritava que eu ia cair no rio? Sempre quando a senhora nos mandava parar e eu não parava? Mas nunca caí no rio!"

De outra feita, referindo-se a esse episódio ela acrescentou:

– "Antes eu tivesse morrido lá; assim eu não teria tomado veneno..."

5 –      Quando ainda tinha um ano e meio de idade, lembrava-se de que em certa ocasião uma vaca chamada "Morena" investiu contra as crianças, o que obrigou um dos irmãos, o João, a acudi-los, atirando-os apressadamente para dentro de casa.

Uma vez ela disse:

            – "Mãe, a senhora lembra daquela vez que a vaca quis pegar-nos e o João correu, nos agarrou e nos jogou para dentro?"

            Lembrava-se da história da vaca, quando já tinha um ano e meio de idade. Estava sentado perto de D. Martha e disse:

            – "Ah! mãe, a senhora lembra daquele dia em que nós estávamos sentados na grama e a vaca escapou?"

            D. Martha perguntou:

            – "Que vaca?"

            Ela respondeu:

            – "A vaca Morena."

            D. Martha perguntou-lhe como ela se lembrava disso, ao que Jacira respondeu:

– "Não se lembra que o João nos pegou e jogou dentro da sala e a senhora chorava?"

            Então D. Martha disse que se recordava, ao que Jacira replicou:

– "Então como a senhora fala que não se lembra? Eu estava lá!"

            Este episódio foi recordado pela paciente, quando tinha apenas um ano e meio de idade!

6 –       Devido talvez ao incidente com a vaca "Morena", Jacira tem, até hoje, um medo incoercível de vacas.

Jacira contou-nos pessoalmente o seguinte, durante a entrevista do dia 14/5/1974 [ 17 anos de idade nota ed. ]

            – "Eu fui a uma fazenda com o meu irmão, perto da cidade de Piraju. Nós queriamos ir até o rio, mas havia algumas vacas a uma distância aproximadamente de 3(três) Km. Mas a meio do caminho tivemos de voltar,porque eu não conseguia prosseguir de jeito nenhum, nem com meu irmão me amparando não dava!"

Embora as recordações vivas da vida anterior tenham se apagado de sua memória consciente, restou esse reflexo em forma de medo incoercível.

7 –      Lembrava-se dos sustos que pregava em sua irmã Laurinda, no sítio em que viviam em São Bernardo do Campo, a quem Ronaldo apavorava, dizendo que o "espírito" da vaca "Morena" iria pegá-la.

            Na chácara em que viveram em São Bernardo do Campo, havia uma das irmãs do Ronaldo, de nome Laurinda. Naquela ocasião a vaca de estimação, "Morena", havia morrido. Laurinda costumava ir ao açude para lavar o coador de café. Ronaldo, então gostava de pregar peças em Laurinda, apavorando-a. Dizia:

– "Olha a vaca, Laurinda!"

A menina corria de medo do "espírito" da vaca. Jacira, quando ainda pequena, recordando-se desse episódio, disse à D. Martha:

            – "Lembra-se, mamãe, quando eu falava assim: Olha a vaca, Laurinda!"

            Ao que D. Martha perguntou:

            – "Que vaca?"

            E Jacira respondeu:

– "A vaca "Morena", né? A senhora não se lembra? Lá na chácara!"

            A única coisa que ela tinha mais gravada era esta história da vaca - informou D. Martha:

– "Às vezes eu estava triste e ela dizia:
– "Mãe, lembra-se de quando a Laurinda tinha medo da vaca? a vaca havia morrido e ela tinha medo da vaca!"

 8 –      Quando tinha dois anos e meio de idade recordava-se de quando o seu tio João (irmão mais velho do Ronaldo) caiu dentro do açude.

Certa ocasião ao chegar em casa, de seu trabalho, o Sr. Munhoz surpreendeu-a dizendo para a mãe:

"A senhora se lembra quando o tio João caiu dentro do açude, molhou-se todo e deu trabalho para tirá-lo?"

            Nessa ocasião ela estava com dois anos e meio de idade.


9 –      Entre dois e sete anos, costumava brincar com o Sr.Munhoz, de maneira um tanto estranha, dando a impressão de que era a personalidade do Ronaldo que se extravasava através de suas palavras e atitudes.

Ronaldo sempre fora brincalhão e tinha muita liberdade com o Sr.Munhoz, então seu cunhado. Aos 2 anos Jacira tinha um comportamento semelhante. Quando o Sr. Munhoz, por qualquer razão, mostrava-se aborrecido, ela acercava-se dele e dava-lhe leves pancadinhas em sua perna e dizia:

"Não adianta, velho... Você tem que me agüentar. Você quis, você aceitou, agora agüenta."

            Quando mais velha, ao ir à escola pedia dinheiro. O Sr.Munhoz então brincava com ela dizendo:

– "Mas você está ficando cara, heim?"

            Então ela respondia:

– "Não tem nada de cara. Quem põe a cruz nas costas carrega-a até ao fim."

            Esse seu comportamento durou até os sete anos, mais ou menos.


10 -      Aos três ou quatro anos, lembrando-se do seu suicídio, pôs-se a chorar muito. Referiu-se então ao fato de haver contado antes à Juraci (irmã de criação da paciente) sua intenção de pôr fim à vida. Depois explicou, à D. Martha, que havia bebido "daquela água vermelha" (veneno diluído em guaraná).

Com três ou quatro anos, um dia ela estava sentada e começou a chorar. Ela chorava muito. D. Martha perguntou-lhe o porquê do choro. Então Jacira explicou:

"Sabe do que estou me lembrando? Por que eu fui fazer o que fiz? Eu contei à Juraci e disse que se ela contasse eu ficaria de mal com ela. Se eu tivesse conversado com o pai, não teria feito o que fiz!"

            – D. Martha perguntou-lhe o que ela havia feito. Ela respondeu: – "Eu bebi daquela água vermelha."


11 –     Mostrava arrependimento de não haver revelado à Da. Martha (então sua irmã) a intenção de cometer o suicídio.

D. Martha relatou-nos o seguinte acontecimento:

            – "Um dia eu fiz refresco, e era vermelho. Ela começou a chorar. Mas chorava mesmo! Eu perguntei por que ela estava chorando e ela disse:
– A senhora pensa que eu sou boba? Eu não quero morrer mais!
– Eu perguntei: morrer mais como? Ela respondeu:
– Isto aí é veneno; não beba!"

  Logo mais, abraçando a mãe, disse:

“O que eu mais me arrependo é de não ter contado para a senhora o que eu ia fazer, o que eu ia beber. Eu contei para a Juraci, mas para a senhora não tive coragem de contar que eu ia me suicidar."

            Quando o Sr.Munhoz chegou em casa, encontrou-a ainda muito emocionada. D. Martha revelou-lhe a causa. Então o Sr.Munhoz aconselhou a esposa a disfarçar o incidente, mas demorou bastante tempo para a Jacira acalmar-se.


12 –     Mostra nítida repulsa e preocupação pelo suicídio. Normalmente procura revelar a culpabilidade dos suicidas, como se estivesse tentando justificar um ato praticado
            em um momento de insensatez.

D. Martha, ao ser inquirida a respeito da atitude de Jacira com relação ao suicídio, respondeu:

            – "Tem repulsa e não quer ouvir falar de pessoas que se suicidaram. Quando se fala nisso e fica-se cogitando do motivo, ela diz:
– Vai ver que foi sem querer, foi obrigada a fazer!
– Sempre justifica. Às vezes, quando conversando sobre isso, alguém diz que a pessoa não devia ter-se suicidado, ela argumenta:
            – Ela fez sem saber o que estava fazendo."

13 –     Aos sete anos de idade, quando já freqüentava a escola, referiu-se novamente ao suicídio. Ao mesmo tempo em que ponderava suas vantagens, reprovava o seu gesto de covardia:

– "Está vendo como foi bom? Agora eu posso ir à escola. Eu quero ser gente, não quero mais ser covarde."

Devido às precárias condições financeiras dos pais, Ronaldo não pôde estudar. Alfabetizou-se depois de adulto e lamentava muito tal fato, pois sempre desejara instruir-se. Jacira, também, revelou amor aos estudos.

            Ao referir-se à atitude suicida da personalidade anterior, taxando-a de covarde, foi inquirida por D. Martha:

            – "Por que covarde?"

            Ao que ela respondeu:

– "A senhora não se lembra do que eu fiz? Eu não quero fazer mais o que fiz. Não quero ser covarde."

14 –     Recordava-se de Margarida a quem ainda chama de tia Margarida. Em sua homenagem mantém constantemente um vaso com uma margarida, no seu quarto.

No quarto de Jacira há constantemente uma margarida:D. Martha explicou o porquê desse fato, dizendo:

"Uma moça conhecida da família, anteriormente à morte do Ronaldo, faleceu no dia 9 de outubro de 1956, vinte e dois dias antes do nascimento de Jacira. Essa moça, chamada, dizia que a criança que iria nascer seria do sexo feminino e deveria chamar-se Jacira. Dizia sempre:
– A Jacira vem aí!
– Jacira, apesar de não a ter conhecido, lembra-se dela."

            D. Martha adiantou mais, dizendo que Jacira sonha muito com a tia Margarida e então ela lhe pede flores; por isso ela mantém sempre o vaso com uma margarida para a tia.


15 –     Quando era criança (6 anos) Jacira referia-se a um episódio: Ronaldo havia ido pescar em companhia de Margarida e caiu ao correr atrás de um tatu, fazendo-a rir muito.

Relatando esse episódio, D. Martha disse que o Ronaldo correra atrás de um tatu e caíra, machucando-se. Nessa época ele já era moço. Jacira perguntou à D. Martha se ela se lembrava desse fato, dizendo:

– “A senhora se lembra daquele dia em que eu corri atrás do tatu e a tia Margarida até sentou para rir?"

            D. Martha perguntou-lhe:

– “Você então se lembra da tia Margarida?"

            Ao que ela respondeu:

– "Sim, eu me lembro."

            E descreveu-a corretamente. Jacira referia-se a ela como tia Margarida, tal qual o Ronaldo o fazia. Margarida morreu no dia 9 de outubro de 1956 e Jacira nasceu no dia 31 do mesmo mês; 22 (vinte e dois) dias depois.

16 –     Do episódio da queda do Ronaldo ao tentar apanhar a tatu, Jacira recordava-se de que D. Martha é quem lavou sua camisa que se sujara na ocasião.

Em uma outra ocasião e referindo-se ao incidente do seu tombo, Jacira disse à D. Martha, num momento em que estava fazendo crochê:

            – "Bem feito, né mãe?"

            Surpreendida, D. Martha perguntou a que se referia. Ela então, explicou:

– "Aquele dia em que eu caí lá e sujei toda a minha camisa branca. O azar foi seu, né? Porque nós chegamos em casa e você teve que lavar e passar."

            D. Martha, fazendo-se de desentendida perguntou quem lhe havia contado aquilo. Ela retrucou:

– "A senhora não se lembra? Eu me lembro."

17 –     Lembrava-se do Sr.João Gomes Barroso, pai do Ronaldo e avô da paciente.

O Sr.Barroso faleceu no dia 17 de setembro de 1932, quando o Ronaldo tinha 9 (nove) anos de idade. Dirigindo-se à mãe, Jacira dizia:

– "Lembra-se de como o papai ficava bravo, não querendo que nós fôssemos para o lado do rio?"

            E quando D. Martha lhe perguntava como era o avô, ela o descrevia corretamente, dizendo que ele era "igualzinho ao tio João" (irmão de D. Martha, o qual se assemelha muito ao seu falecido pai). Quando o Sr. Barroso morreu, a mãe de Jacira tinha 14 anos de idade.


18 –     Referindo-se à Da.Odila (avó da paciente), dizia que ela era também sua mãe.

Quando D. Martha anunciava à Jacira que iriam a Lins, onde reside Da.Odila, ela exclamava:

"Oba! Hoje eu vou ver a outra mãe!"

Quando pequena, dizia também:

– "Olha vovó, eu tenho duas mães: a senhora e a mamãe."

Inquirida pessoalmente por nós sobre este particular, Jacira afirmou:

– "Vejo minha avó como se fosse minha própria mãe. Eu não a sinto como minha avó."

19 –     Lembrava-se de ter sido do sexo masculino, ligando a personalidade anterior ao episódio do suicídio.

Jacira dizia:

– “Ainda bem que eu nasci mulher."

            Ao ser inquirida porque achava mais vantajoso ter nascido mulher, respondeu:

– “Para fazer o que eu fiz? Não queria ser homem não. Eu não quero fazer mais o que foi feito. Sendo mulher a gente agüenta mais; não é mamãe?"

            D. Martha esclareceu que ela falava que tinha sido homem:

            –"Eu fui homem; só que fui um homem covarde."


20 –     Mostrava, entretanto, preferência pelas calças compridas e, para justificar seu gosto, dizia que seria melhor ter voltado como homem. Sua atitude nessas ocasiões era contraditória com a assinalada no item 19.

Quando pequena, Jacira gostava muito de usar calça comprida. D. Martha advertia-a:

– "Você tem que pôr vestido, Jacira!"

            E ela exclamava:

– “Ah... por que eu não voltei homem outra vez?... Eu não era homem? A gente devia ser o que a gente foi; a mesma coisa."


21 –     Manifestava, quando pequena, momentos de forte identificação com a personalidade anterior, chegando a reclamar por que não tinha o mesmo nome que Ronaldo.

Jacira, quando pequena, reclamava por não lhe terem posto o nome de Ronaldo. Por isso os parentes caçoavam com ela, levando-a a justificar-se assim:

            – "Gozado... Ronaldo e Jacira tem tanta diferença assim?"

            Por quê ? Perguntava-lhe D. Martha. E ela respondia:

"Ué! Se fosse Ronaldo não era a mesma coisa?"

            D. Martha explicava-lhe que Ronaldo era nome masculino e Jacira era nome feminino. Então ela retrucava:

– "É, mas eu podia ter continuado com o mesmo nome."

 Sua mãe insistia que não, pois ela era mulher, ao que Jacira replicava:

– “Então por que não me põe outro nome combinado com o meu ?" (referia-se a Ronaldo).

            Dava a impressão de que ela tinha preferência pelo nome da personalidade anterior, o qual considerava como sendo o seu verdadeiro nome.


22 –     Quando o Romildo (irmão gêmeo do Ronaldo) faleceu, em 1970, Jacira deu mostras de ter, ainda, sentimentos ligados à sua encarnação anterior.

            Jacira sempre manifestava forte apego ao Romildo, irmão gêmeo do Ronaldo. De todos os irmãos de D. Martha era aquele com o qual Jacira mais tinha afinidade. Ao receber a notícia de sua morte, Jacira abraçou-se à mãe e disse:

–"Mãe, ele cumpriu a missão dele, foi mais feliz do que eu que não cumpri a minha missão."

            Referindo-se à morte de Romildo, Jacira afirmou:

            "Senti algo muito diferente, que nunca havia sentido em minha vida. Foi como ter tirado uma parte de mim." (Declaração aos 18 anos de idade, feita a nós).

23 –     Quando pequena, Jacira referia-se à Alice, a qual fora noiva do Ronaldo. Ela mostrava grande predileção por aquele nome. Dizia que a Alice não se esquecia dela, perguntando se ela ter-se-ia casado.

Quando era pequena, Jacira perguntou:

–“Será que a Alice se casou?"

            D. Martha disse-lhe:

            – "Quem é Alice?"

            Ela replicou:

            – "Ah! até parece que a senhora não sabe..."

            Ela se mostrava zangada quando D. Martha fingia desconhecer tais fatos. Em seguida acrescentou:

            –"Mas ela não se esqueceu de mim, não."

            A afirmação de Jacira, de que Alice não a teria esquecido, provavelmente se prende ao fato de Ronaldo ter ouvido da noiva tal jura de amor. De fato, certa ocasião, o irmão gêmeo de Ronaldo, o Romildo, encontrou Alice em São Paulo. Ela já se havia casado e era mão de filhos. Chorou ao ver o Romildo e disse-lhe que só se esqueceria do Ronaldo, depois de morta.

            Em 14/5/1974, quando da nossa 2.a visita a Penápolis, inquirimos Jacira, pessoalmente, acerca do nome "Alice". Ela afirmou que gostava muito desse nome. Por que? Perguntamos; ao que ela respondeu:

"Não sei. Acho legal o nome. Também tem hora em que sinto uma diferença pelo nome. Um coisa passageira."


24 –     Quando tinha cerca de três a quatro anos de idade, Jacira chorou ao saber que a ex-noiva do Ronaldo iria casar-se.

            D. Martha relatou este episódio a nós, em 14/5/1974, da seguinte forma:

            "Ela estava assistindo a conversa. Minha mãe contou-me que a Alice ia casar-se. Eu perguntei se o moço era de Lins, e minha mãe disse que não, que era de São Paulo.
  Ela (Jacira) estava tomando leite e nem acabou. Deitou na cama e começou a chorar. Minha mãe perguntou por que ela estava chorando e eu disse que não sabia. Aí perguntei a ela se estava sentindo alguma dor, mas ela não quis falar. Quando minha mãe foi embora, eu perguntei por que ela chorara. Ela disse:
Mas ela não tinha nada que casar!
– Eu perguntei quem não tinha que casar, e ela respondeu:
– A Alice; ela tinha que me esperar!
– Eu perguntei por que esperar por ela, e ela retrucou:
– Ué! Nós não éramos noivos? Ela tinha  que me esperar!
– Então eu fiquei quieta e, quando o pai dela (Sr.Munhoz) chegou, ela correu e contou-lhe o caso, chorando."

            Este incidente é muito importante, pois mostra de maneira flagrante a identificação de Jacira com a personalidade anterior, o Ronaldo.

25 –     Jacira, quando criança, mencionava inúmeras passagens referentes à chácara do avô, em São Bernardo do Campo, descrevendo detalhes dessa propriedade.

Jacira jamais esteve em São Bernardo do Campo e nunca visitou a antiga propriedade do avô. Essa propriedade fora vendida ao Cel.Rufino, um primo do Sr. Barroso (avô). Entretanto, Jacira recordava-se de fatos passados há mais de trinta anos antes, quando o sogro do Sr. Munhoz era fazendeiro em São Bernardo do Campo – Estado de São Paulo - e ali possuía uma casa branca de alvenaria, bem como um açude onde se criavam peixes.   Quando Jacira se acomodava junto à D. Martha, em um sofá, costumava referir-se àquela chácara, descrevendo com minúcias precisas a respectiva casa, mencionando sua cor, assim como o número e detalhes dos cômodos da mesma. Referia-se ao açude onde pescava em companhia das demais pessoas da família. Mencionava, também, o pomar e o local em que brincava com outras crianças. Ao falar desses acontecimentos, inquiria a mãe dizendo:

  – "Como é que naquele tempo nós brincávamos juntos e, hoje, a senhora é minha mãe?"

            As recordações acerca da chácara do avô (pai de Ronaldo) surgiram quando Jacira tinha cerca de um ano de idade. Foi com um ano de idade que começou a referir-se àquele lugar.


26 –     Em pequena, Jacira estranhava a dualidade de relacionamento entre ela e os parentes próximos.

Quando a esposa do Sr.Munhoz sentava-se costumeiramente em um sofá, Jacira procurava acomodar-se ao lado da mãe e fazia-lhe perguntas assim:

– "Escute, eu tenho duas mães? Aquela que a senhora me diz ser minha avó é minha mãe. Como pode ela ser sua mãe também? Antes nós eramos irmãos. Porque eu devo chamar-lhe, agora, de mãe ? Porque o tio João era meu irmão e agora eu tenho que chamá-lo também de tio?"

            E assim se desenrolavam as conversas entre Jacira e sua mãe. Muitas vezes o Sr.Munhoz, ao chegar em casa, surpreendia a esposa sentada no sofá, chorando junto à menina, e esta falando sobre tais questões. O Sr.Munhoz esclareceu que, naquela ocasião, sua esposa não tinha conhecimentos suficientes sobre a Doutrina Espírita. Em virtude desse fato, sentia-se angustiada ao ouvir as conversas e perguntas de Jacira. Acreditava então que tais recordações pudessem ser um prenúncio de morte prematura. Diante dessa situação desesperava-se e derramava abundantes lágrimas, na expectativa de que iria logo perder a filha.

            Referindo-se a tais episódios, Sr.Munhoz contou que, em uma ocasião em que Romildo os visitara, Jacira dirigiu-se a ele e disse:

"Como você pode ser meu tio, se eu gosto muito de você porque você era meu irmão e nós andávamos sempre juntos?"


27 –     Quando era pequena, Jacira considerava D. Martha como sendo sua irmã e não como mãe.

D. Martha informou que Jacira, quando pequenina, falava:

–"Você é minha irmã! Você não é minha mãe!"
(Empregava o tratamento "Você"). Quando Da. Martha esclarecia que era sua mãe, ela respondia:

            – "Que mãe nada! Você é minha irmã! Você quer mandar em mim?"

*  *  *  *  *

ANÁLISE DE ASPECTOS RELEVANTES OBSERVADOS NAS RECORDAÇÕES E NO COMPORTAMENTO DE JACIRA.

No caso de Jacira, a sua identificação com a personalidade anterior é um dos aspectos mais notáveis. Essa identificação acentua-se principalmente no período de afloramento das
recordações. Para melhor análise dessa particularidade, vamos tabular apenas os ítens que consideramos mais marcantes.

1 –      Durante sua infância, Jacira referia à personalidade anterior, empregando o pronome na primeira pessoa do singular ou do plural.

Quando Jacira insistia com sua mãe para recordar-se de certos episódios passados com D. Martha e seus irmãos na chácara do avô, empregava a primeira pessoa:

"Mãe, a senhora lembra daquele dia em que eu corria e a senhora gritava que eu ia cair no rio?" (sic)
– "Mãe, a senhora lembra daquela vez que a vaca quis pegar-nos e o João correu, agarrou-nos e nos jogou para dentro" (sic)

            Inquirida a respeito dessa particularidade, D. Martha afirmou que Jacira nunca dizia ele, mas sim nós. Dizia:

            – “Lembra, mãe, quando em tal lugar nós fazíamos isso?”
– “Citava os nomes dos nós como se fossem seus irmãos e falava: nós brincávamos no parque; nós subíamos naquela árvore; nós íamos no açude... Era nós. Ela nunca falava ele; dizia ‘nós’.” (sic)

2 –      Jacira manifestava, e ainda manifesta, forte aversão por bebidas de cor vermelha ou semelhante. Se for obrigada a ingerir líquidos de cor vermelha, vomita logo a seguir. Este reflexo mantém-se até hoje. (Ver tabulação, itens 1 e 11).

            Pensamos que a paciente conservou o reflexo, sob a forma de náusea, que a personalidade anterior teria adquirido ao ingerir a mistura venenosa cuja cor era vermelha.

            Sua aversão limita-se exclusivamente aos líquidos. Quanto aos demais objetos vermelhos, não manifesta repulsa. Ela chega a mostrar preferência por esta cor nos trajes.

            A repugnância pelos líquidos vermelhos é relacionada com a idéia de veneno. Quando menor, mostrava seu horror às bebidas vermelhas dizendo:

            –"Põe isso para lá, que eu não quero tomar este veneno." (sic).

            D. Martha não manifesta semelhante aversão às bebidas de cor vermelha. Nenhum parente de Jacira possui este reflexo. Em suas entrevistas gravadas, D. Martha revelou que usa regularmente a groselha como refrigerante em sua casa, Entretanto Jacira, até hoje, nega-se a  beber desse refresco.

É relevante assinalar que D. Martha não assistiu à morte do Ronaldo. Na ocasião ela se achava na cidade de Penápolis.


3 –      Jacira manifestava ciúmes de Alice, que fora noiva de Ronaldo.Até hoje mostra preferência pelo nome de Alice. (Ver tabulação, itens 23 e 24).

            Jacira nunca teve contacto com Alice. Esta moça inicialmente morou em Lins e, mais tarde, mudou-se para São Paulo, onde se casou e fixou residência.

            Além de sua noiva, Ronaldo teve uma amante cujo nome também era Alice. Quando ele ficou noivo e estava prestes a casar-se, houve um rompimento entre Ronaldo e a   Alice II (a amante). Pelo que se deduz, ele amava realmente a Alice I (a noiva). Jacira nunca se referiu à Alice II. Seus cuidados dirigiam-se exclusivamente à noiva da personalidade anterior.

            Em nossa entrevista, dia 14 de maio de 1974, inquirimos Jacira acerca do nome feminino de sua preferência:

  P–      "Você tem preferência por algum nome feminino?"
  J –     "Tenho. Eu gosto muito do nome daquela noiva do meu tio: Alice. Acho que é só. Não tenho preferência por mais nenhum" (sic).

            Nesta resposta nota-se que Jacira não empregou mais o possessivo minha noiva . Usou a expressão noiva do meu tio. Deve observar-se que, aos 18 anos de idade, a paciente já tinha sido informada acerca da sua condição. Sua forma de responder foi, portanto, congruente. A preferência pelo nome Alice identifica-a com a personalidade anterior porquanto permaneceu em forma de sentimento. Aos 18 anos de idade as recordações dos fatos pretéritos já se haviam apagado da memória de Jacira.

 4 –      Jacira conserva, até à data das nossas entrevistas, um medo incoercível de bovinos. (ver tabulação, itens 5 e 6).

            Na idade adulta Jacira já não conserva mais a lembrança dos episódios passados com a personalidade anterior. Entretanto deve ter mantido, em forma de reflexo adquirido, o terror que manifestava pelos bovinos.

            É provável que o incidente da vaca "Morena" tenha causado uma impressão muito forte em Ronaldo. Este era ainda muito jovem e, por isso, deveria ter-se apavorado intensamente ao ver o animal investir contra ele e seus irmãos. D. Martha, referindo-se às recordações de sua filha na infância, declarou:

            –"A única coisa que ela tinha mais gravada era esta história da vaca." (sic)

5 –      Jacira identificava-se com o sexo masculino, não só na primeira infância como na puberdade.(ver tabulação, itens 19, 20 e 21).

            Atualmente, Jacira não se assemelha à personalidade anterior. Mesmo que isso ocorresse, seria normal, pois Ronaldo era seu tio. Entretanto, nos primeiros meses de vida, sua semelhança física com o Ronaldo era notória. Fora estrábica até quase os dois anos de idade. Ronaldo possuía também esse defeito.

            Mas sua identificação com o sexo oposto era mais forte quanto ao comportamento e mesmo quanto ao físico, até os 15 anos de idade aproximadamente. O Sr.Hélio Alves e sua esposa afirmaram que o comportamento de Jacira se assemelhava muito ao de um garoto. Preferia folguedos de meninos. Usava cabelo curto. Seus brinquedos prediletos até os 10 anos não eram as bonecas ou outros objetos preferidos pelas meninas.  Ela gostava de brincar com um estojo para pôr pesos de balança, feito de madeira. Quando D. Martha jogou fora o referido estojo de madeira, Jacira mostrou-se muito magoada.

            Sua tendência a usar calças masculinas e trajes esportivos manifestou-se desde a infância, perdurando ainda hoje. Mostrava preferência pelo nome do Ronaldo. Quando pequena, reclamava por não lhe terem posto este nome ou um nome combinado com o mesmo.

            Presentemente Jacira é uma bonita moça, com formas acentuadamente femininas. Entretanto é menos feminil que o normal quanto ao modo de andar e vestir-se.  Parece não preocupar-se muito com o sexo oposto, pois até aos 17 anos não tinha namorado. Quanto à sua maneira de comportar-se em família, percebe-se que recebeu uma excelente educação ao estilo tradicional brasileiro, favorecida pelo ambiente harmonioso em que cresceu. Daí Jacira ter atitudes típicas de uma adolescente afável, dedicada aos afazeres domésticos e às pessoas da família, como o normal das moças de sua idade. Ronaldo também foi muito unido aos parentes.

            Convém observar que, no tocante aos gostos e preferências relativos a alimentos, dinheiro, viagens, músicas, carreira a seguir, etc., não se assinalaram coincidências significantes.

            A aplicação de testes psicológicos comparativos mais rigorosos foi prejudicada, devido à precariedade de informações acerca da personalidade de Ronaldo. Entretanto, cremos que este fato não afeta, de maneira significante, a análise em questão.

*  *  *  *  *

HIPÓTESES EXPLICATIVAS PARA AS RECORDAÇÕES E O COMPORTAMENTO DE JACIRA

Antes de tentar uma explicação para o presente caso, devemos analisar as diferentes hipóteses que poderiam ser propostas para o mesmo.

Escolheremos aquelas que nos parecem mais adequadas e que sejam fundamentadas em razões consideradas válidas. Em seguida procuraremos experimentar a hipótese escolhida, a fim de verificar se ela poderá explicar todas as situações ou pelo menos um grande número delas. Aquela que cobrir maior extensão de situações será por nós eleita como a mais adequada. Esclarecemos, todavia, que tal escolha estará condicionada a futuras mudanças, caso surjam hipóteses melhores. Portanto, seu caráter será provisório.

FRAUDE DELIBERADA

Será necessário começar pela hipótese da fraude. Ela tem caráter eliminatório. Uma vez que fosse demonstrada a fraude, o caso perderia totalmente sua validade.

A fraude normalmente pode ser motivada por razões várias. As principais seriam: interesse em ganhar dinheiro ou vantagens econômicas; desejo de notoriedade; proselitismo a favor de uma crença ou doutrina filosófica; necessidade de forçar determinada situação a fim de neutralizar escândalos; promover campanhas ideológicas, etc. Raramente se encontraria
outro motivo além desses, especialmente numa circunstância semelhante à da família de Jacira.

Os dois primeiros motivos são prontamente eliminados, pois o Sr.Munhoz e sua esposa procuraram justamente abafar o caso. Eles tentaram sempre evitar que Jacira viesse a
inteirar-se de sua condição. Temiam que a filha, mais tarde, cometesse o suicídio. Assim foram advertidos pelo Guia espiritual de D. Angelina (a médium). Não cremos que estivessem usando de um ardil, a fim de levar-nos habilmente a aceitar os fatos narrados. Não iriam esperar tantos anos para efetuarem essa manobra. Quando se decidiram a conceder as entrevistas, nenhuma oferta em dinheiro ou vantagens futuras lhes foram por nós acenadas. Nem os pais, nem a paciente poderiam lucrar qualquer coisa em inventar semelhante drama.

Nenhuma notoriedade adviria para eles da divulgação desses fatos. Eles próprios solicitaram-nos sigilo, desde o início do nosso contato com a família. Não fomos sequer autorizados a divulgar os nomes verdadeiros das pessoas e dos lugares neles implicados. A quebra do sigilo com relação a Jacira só foi concedida após demorada argumentação com os pais.

Levando-se em conta que os pais de Jacira são espíritas, poderia cogitar-se de uma intenção dos mesmos em fazer proselitismo religioso. Para quem conhece bem o Brasil e a extensão do movimento espírita neste país, tal suposição não tem cabimento. A divulgação das obras de Allan Kardec e de Francisco Cândido Xavier (Chico Xavier) é de tal vulto, que um fato como o de Jacira equivaleria a uma gota d'água no oceano.

Finalmente, quando entramos em contato com a família da paciente, encontramos todos em perfeita paz e harmonia, sem outros problemas além dos comuns a todas as famílias modestas do interior. Tanto o Sr.Munhoz como D. Martha e seus filhos são pessoas tranqüilas, honestas e devotadas ao estudo e ao trabalho. A tragédia do suicídio de Ronaldo havia ocorrido há mais de vinte anos e não deixara reminiscências muito além do âmbito familiar. Não notamos quaisquer problemas de ordem moral ou material que exigissem solução a ser buscada desta forma. A iniciativa do levantamento do caso partiu de nós.

Não cremos que a hipótese da fraude deliberada seja adequada ao presente caso.

INFORMAÇÃO DIRETA – CRIPTOMNÉSIA


A primeira suposição que cabe ao presente caso é a de que a paciente teria obtido as informações acerca da personalidade anterior, através dos meios normais. Seria a hipótese da informação direta. Tais informações, embora aparentemente esquecidas, estariam latentes na subconsciência de Jacira. Em determinadas circunstâncias viriam à consciência, sob forma de personificação ou dramatização. Estaríamos diante de uma possível manifestação de criptomnésia.

É evidente que a morte trágica do Ronaldo, bem como suas passagens na infância e na adolescência deveriam ter sido objeto de comentários entre os membros da família. Devem
acrescentar-se a isso os fortes laços de relacionamento de D. Martha e seu esposo, com o falecido Ronaldo. Seria, portanto,difícil descartar a suposição de alguma transmissão de informações à paciente por parte dos membros da família.

Entretanto, precisamos examinar mais atentamente as condições em que Jacira manifestou sua identificação com a personalidade de Ronaldo, bem como a natureza de suas referências a situações e episódios relativos à personalidade do falecido tio.

O primeiro ponto a ponderar é a precocidade manifestada por Jacira. Ela começou a pronunciar as primeiras frases aos dez meses de idade. Aos onze meses já fazia referências a episódios concernentes à personalidade de Ronaldo e inquiria a mãe acerca do seu relacionamento familiar imediato com a própria mãe e com aqueles que eram os irmãos da personalidade anterior. Nessas ocasiões ela se colocava na posição da personalidade do falecido. Não se tratava de meras perguntas acerca do tio, o que seria mais lógico em um caso de informação verbal concernente à referida pessoa e acerca da qual a criança desejasse, eventualmente, satisfazer sua curiosidade. É importante, também, avaliar as condições inerentes à pouquíssima idade da paciente naquela ocasião. Quem tem experiência no trato com crianças sabe perfeitamente que seria pouco provável que uma menina de um ano de idade viesse a dramatizar a lembrança de uma informação verbal, colocando-se na posição da pessoa a respeito da qual desejasse melhores detalhes. Talvez isso fosse admissível em se tratando de um gênio. Entretanto, Jacira, sem embargo da precocidade no andar e no falar, não revela, em absoluto, traços de genialidade. Seus progressos na escola e em outras condições equivalentes são normais. Tivemos a oportunidade de observá-la demoradamente, conversamos com ela sobre diversos assuntos, e a impressão que nos deixou foi a de uma jovem normal.

Acresce notar que a diversidade de sexo seria mais outro motivo para que tal personalização se tornasse improvável. Neste caso ela o faria, por exemplo, mais logicamente com relação à Margarida, a respeito da qual provavelmente os comentários teriam sido mais comuns. Margarida havia escolhido seu nome, antes de falecer. Jacira até hoje mostra muita afinidade por essa mulher, que ela não pôde conhecer pessoalmente por haver falecido vinte e dois dias antes de seu nascimento (ver tabulação, itens 14, 15 e 16).Entretanto recordava-se dos episódios ocorridos entre Ronaldo e Margarida. O mais lógico seria Jacira ter-se colocado na pessoa de Margarida, inquirindo D. Martha acerca dos fatos por ela lembrados. Por que escolheu, então, a personalidade de Ronaldo?

Admitindo-se, assim mesmo, a hipótese da informação verbal direta, ela por si só não explica a aversão de Jacira pelos líquidos de cor vermelha. Menos ainda, a repugnância que culmina nos vômitos se for ingerida qualquer bebida com essa cor (ver tabulação, itens 1 e 11).

Outro fato dificilmente explicável pela hipótese da informação direta é a aversão que Jacira manifestava, desde a idade de um ano, com relação ao retrato da personalidade anterior. Particularmente relevante é o comportamento da paciente relativamente aos cartões de lembrança da "missa do 7º dia" (ver tabulação, itens 2 e 3). Nessa ocasião ela mostrava forte identificação com o falecido Ronaldo e procurava contradizer a situação sugerida pelos cartões dizendo:

– "P’rá quê!? Eu não morri! Por que está isto aqui?"

Acreditamos que a simples informação a respeito de um parente morto jamais poderia gerar semelhante comportamento por parte de uma criança de um a dois anos de idade.

Os itens 9, 10, 11, 12, 19, 20, 21, 23, 24, 26 e 27 revelam características de comportamento que excluem pura e simplesmente a mera recordação de informações recebidas. As ocorrências descritas nesses itens dizem mais respeito a uma identificação flagrante de Jacira com a personalidade do Ronaldo. É relevante a preocupação de Jacira com respeito à ex-noiva do Ronaldo (item 23). A cena de ciúme, quando ela soube que Alice iria casar-se (item 24), dificilmente se explicaria pela criptomnésia, sobretudo em se tratando de uma menina de três a quatro anos de idade. Como transferir para uma criança todos os fatores subjetivos necessários à manifestação do ciúme em relação a uma pessoa desconhecida?

TELEPATIA - (ESP)

A hipótese da telepatia ou da percepção extra-sensorial seria uma das melhores explicações para o presente caso. É particularmente relevante o clima de intensa emoção que precedeu o nascimento de Jacira. Naturalmente, todo o grupo implicado no caso, e especialmente D. Martha, estava inclinado a admitir que a criança em gestação seria a reencarnação do Ronaldo. Tal crença reforçou-se com a série de ocorrências coincidentes com as informações do Guia espiritual da médium. A convergência de provas confirmadoras das previsões feitas pelo Guia espiritual foram de molde a eliminar qualquer dúvida acerca da autenticidade da informação principal:

"O Ronaldo reencarnou-se como Jacira! "

Acrescentem-se a isso os laços naturais de ligação e influência entre mãe e filha, e teremos as condições ideais para o estabelecimento de um possível relacionamento telepático entre elas. Jacira captaria as imagens mentais de D. Martha, dramatizando-as e representando o papel do falecido Ronaldo. Poderia, inclusive, captar por ESP (percepção extra-sensorial) os demais detalhes relativos ao local onde viveram os seus parentes. Teremos aí a retrocognição.

Não queremos, logo de início, descartar a hipótese em análise, argumentando que as experiências acerca da percepção extra-sensorial não são de molde a autorizar a crença em
tamanha facilidade de captação paranormal. Conviria assinalar que Jacira não demonstra ser uma sensitiva deste calibre. Os que lidam com os testes de ESP sabem como são
difíceis as boas marcas de acerto com cartas Zener ou em quaisquer outros tipos de experimentação.

Admitindo-se, entretanto, que estejamos diante de um desses raríssimos casos de transmissão e captação telepática ostensivas, causa estranheza que tal situação se mantivesse por tempo tão longo, vindo a extinguir-se quase totalmente só no início da puberdade. As ocorrências de ESP muito nítida e muito intensa são, normalmente, de pouca duração e ocorrem em determinados instantes ligados a situações dramáticas ou em razão de forte motivação. Basta compulsar a vasta literatura referente a casos extraordinários de ESP para perceber-se logo tal característica. Ainda que façamos uma concessão ao caso de Jacira, considerando-o uma notável exceção nesse sentido, restarão os óbices apontados anteriormente com relação à hipótese da informação direta à paciente. Não devemos perder de vista que a ESP é, de certa maneira, uma informação também.

Consideramos difícil de explicar, por exemplo. como Jacira captou por ESP a sua aversão às bebidas vermelhas, ao ponto de vomitar logo após tentar ingerir um inocente refresco de groselha. Admitamos que isso fosse a conseqüência de haver captado telepaticamente da mãe que a cor do veneno tomado pelo Ronaldo era vermelha. A idéia de veneno aliada à cor vermelha do líquido poderia desencadear um reflexo defensivo de vômito. Admitamos isso. Mas Da. Martha não viu o Ronaldo morrer, nem viu a cor da mistura venenosa. Soube-o por informação de seu marido. Quem transmitiu o telepatema seis anos depois? Sabemos que D. Martha teve uma gravidez marcada por inúmeros sintomas mórbidos muito mais intensos e persistentes, que ela considerava ligados ao envenenamento do irmão. Por que não foram aqueles sintomas os captados por Jacira? Sabe-se que Da. Martha às vezes tinha vômitos à noite, mas não relacionados com líquidos vermelhos. Os sintomas predominantes eram outros, tais como a boca em feridas, dores no esôfago e no estômago, gosto estranho ao deglutir os alimentos, tonturas, etc. Mas Jacira nunca os manifestou.

Não vemos como explicar por ESP a dramatização de Jacira, com relação à ex-noiva do Ronaldo (Alice). Como uma criança de três a quatro anos de idade poderia manifestar, em
virtude de captação telepática, uma crise de ciúme, após ouvir o relato de que a ex-noiva do falecido tio iria casar-se? (Ver tabulação, item 24). Ou então, como se explicariam os cuidados de Jacira quanto à sorte de Alice, perguntando se ela ter-se-ia casado? (Ver tabulação, item 23).

Achamos desnecessário estender-nos mais na análise desta hipótese (ESP-Telepatia), pois para admiti-la como ajustável ao presente caso, teríamos que fazer concessões inaceitáveis pelo bom senso e pelo que se conhece como válido acerca da ESP.

MEMÓRIA GENÉTICA


Esta hipótese poderia apoiar-se na transmissão de caracteres de comportamento por via genética. Poderia pensar-se, também, na informação genética transportada através do RNA, após a aquisição de um reflexo condicionado.

As objeções apontadas anteriormente para as hipóteses da informação direta ou por ESP aplicam-se também à da memória genética. Por outro lado, achamos muito discutível saltar-se do caso de herança de comportamento e de reflexos para os de lembranças carregadas de imagens nítidas dos episódios vividos ou assistidos por um dos progenitores. Como e por que a paciente iria escolher justamente a experiência da mãe? Por que ela e somente ela herdou apenas as experiências referentes ao Ronaldo? D. Martha teve mais um filho após Jacira e este não herdou tais características.

INCORPORAÇÃO MEDIÚNICA


A hipótese da manifestação da personalidade do falecido Ronaldo, através de Jacira, em forma de incorporação mediúnica, deve ser examinada. Teríamos que distinguir dois
casos: incorporação ocasional de duração limitada; e incorporação com possessão de longa duração.

Em nossa experiência pessoal (mais de 40 anos) no trato com o fenômeno da incorporação mediúnica, sempre assinalamos uma série de alterações na pessoa do médium, devidas à influência do agente desencarnado, antes e depois de tomar o sensitivo. De um modo geral, o transe mediúnico se manifesta com características típicas que o tornam imediatamente identificável. Na maioria das vezes é precedido por modificações no ritmo respiratório, seguidas de estado semelhante ao sonambúlico. Em outras ocasiões o médium se debate, precisando ser contido pelos circunstantes, a fim de não ferir-se ou sofrer quedas. Quando o médium já adquiriu suficiente prática, consegue controlar grande parte dos movimentos involuntários, e a incorporação se faz mais suavemente, mas mesmo assim podem notar-se as transformações manifestadas no paciente. Qualquer freqüentador assíduo de sessões mediúnicas distinguirá facilmente os sintomas da incorporação. É muito típica e facilmente identificável.


Os casos de incorporações em crianças são raríssimos. Em toda a minha experiência não assinalei nem um só caso de criança de tenra idade ser tomada por um espírito. E se isso ocorresse, não seria apenas um único espírito que iria incorporar-se de vez em quando. O médium desenvolvido e sem controle é sistematicamente assediado por entidades desencarnadas. Se não aprender a controlar sua faculdade, possivelmente irá cair em obsessão total.

A possessão é uma incorporação a longo prazo. Nesse estado o paciente fala e age como se fosse a personalidade do desencarnado. A identificação também é fácil, pois além dos sintomas prévios em tudo semelhantes à incorporação mediúnica, a transformação da personalidade do médium é flagrante.

Há variantes nos aspectos do fenômeno da incorporação com ou sem possessão, os quais não cabem ser tratados aqui. Entretanto é relevante assinalar que Jacira não apresentou e nem apresenta quaisquer características que autorizem admitir-se tal hipótese de trabalho. Desde a mais tenra idade, ela sempre se comportou como uma criança normal. Os afloramentos de lembranças dos episódios ocorridos com a personalidade anterior eram semelhantes a uma recordação comum. Sua curiosidade em elucidar as situações que lhe causavam estranheza revela nitidamente a posição de uma criança diante de um enigma. Se fosse a manifestação da personalidade do Ronaldo, tal fato não ocorreria, pois ele saberia da sua condição de desencarnado comunicando-se através de uma médium. Seu comportamento seria então diferente.

O Sr.Munhoz, pai de Jacira, é espírita há muitos anos. Tem grande experiência acerca de manifestações de desencarnados através de médiuns. O grupo espírita por ele freqüentado
também é experiente nesse gênero de manifestações. Penso que eles seriam os primeiros a notar, caso Jacira estivesse mediunizada nos momentos em que revelava recordar-se dos
fatos ocorridos com a personalidade anterior. Em nossas entrevistas, nem o Sr.Munhoz nem a sua esposa fizeram alusão a essa eventualidade. Nunca notaram alterações na personalidade da filha, que sugerissem um fenômeno de incorporação mediúnica. Em nenhuma oportunidade a paciente mostrou achar-se em transe mediúnico.

A mediunidade de incorporação pode surgir algumas vezes antes da puberdade ou da adolescência e sofrer um incremento com a idade e com a prática mediúnica. Se não aproveitada, pode resultar em anomalias psíquicas facilmente confundíveis com a neurose ou a psicose. Pode desaparecer com o tempo, na idade madura, mas deixa quase sempre os traços de sua influência no comportamento do paciente. No Brasil, devido à disseminação da prática espirítica, comumente tais ocorrências são prontamente detectadas e os médiuns logo encontram centros espíritas onde aprendem a controlar suas faculdades. Jacira nasceu e cresceu em lar espírita. Sempre viveu nesse ambiente. Entretanto, pelo que apuramos, ela não freqüenta regularmente as sessões espíritas. Não é tida como médium. Apenas participa do movimento espírita juvenil, onde as práticas mediúnicas não são adotadas. As "Mocidades Espíritas", que constituem atualmente um amplo movimento cultural no Brasil, dedicam-se mais às atividades sociais e filantrópicas, e ao estudo teórico da Doutrina Espírita. Promovem grandes concentrações de confraternização, das quais participam Mocidades de diversas regiões do país e até mesmo de outras nações da América Latina. São atividades sobretudo culturais.

Vários dos aspectos já examinados e concernentes às recordações e comportamento de Jacira seriam dificilmente explicáveis pela hipótese da incorporação mediúnica ou da possessão Achamos desnecessário enumerá-los. Basta um reexame atento da tabulação para descartar-se a hipótese que aqui discutimos, sem embargo das razões atrás apresentadas.

REENCARNAÇÃO


A hipótese da reencarnação exige a demonstração da sobrevivência de pelo menos parte da personalidade, após a morte do corpo físico. Esta parte sobrevivente deveria ser o repositório da lembrança de algumas ou de todas as experiências vividas pelo falecido e transmitidas à personalidade sucessiva. Cremos que, acerca da demonstração da sobrevivência, não há falta de evidência e sim de aceitação dos inúmeros testemunhos aduzidos até agora. Tal resistência não afeta a eventual realidade do fato, apenas impede sua admissão como coisa provada. Assim, por exemplo, a relutância em aceitar-se o heliocentrismo, defendido por Galileu em sua época, não impediu que a Terra gravitasse ao redor do Sol. Era um fato real e ainda continua sendo, apesar das opiniões em contrário manifestadas pelos sábios peripatéticos de outrora.

Se tomarmos a reencarnação como hipótese de trabalho e a aplicarmos a um fato observado, como o presente caso, podemos pôr à prova sua eficiência para explicá-lo. Se a hipótese da reencarnação cobrir todos os episódios ou a maioria deles, ela deverá ser mantida como a mais provável, ainda que em caráter provisório. Entretanto esta hipótese nunca descartará definitivamente as demais, desde que se mostrarem, ulteriormente, mais adequadas.

A hipótese da reencarnação cobre os antecedentes do nascimento de Jacira, nos episódios da manifestação do Espírito de Ronaldo e da anunciação do Guia espiritual da médium. Ela é adequada para explicar a manifestação da repulsa às bebidas vermelhas e do reflexo de vômito correlato. Explica as demonstrações de preocupação e ciúme relacionados com a pessoa de Alice. Igualmente ela esclarece a estranheza de Jacira, na infância, com respeito ao seu aparente dualismo de parentesco relativo à mãe, à avó e aos irmãos.

Além dos aspectos subjetivos manifestados através das identificações de Jacira com o Ronaldo, a hipótese da reencarnação justifica as características físicas manifestadas pela paciente nos primeiros meses de vida. O estrabismo, por exemplo, seria uma das manifestações classificáveis na categoria das marcas-de-nascença (birthmarks). Tais ocorrências já foram assinaladas pelo Dr.Ian Stevenson e também por nós em nossa modesta coleção de outros casos que sugerem reencarnação. Jacira, na meninice, mais se assemelhava a um garoto, tanto no físico como no comportamento.

Reconhecemos que a hereditariedade poderia perfeitamente responder por essas características físicas. Entretanto é importante assinalar que nenhum dos filhos de D. Martha apresentou estrabismo na infância. O último filho, do sexo masculino, jamais manifestou caracteres de comportamento ou personalização que lembrassem o falecido Ronaldo. Os anteriores também não. O estrabismo manifestado por Ronaldo não era congênito. Conforme afirmou-nos o Sr.Munhoz, Ronaldo tornara-se estrábico quando criança, após uma congestão. Não se conhece nenhum caso de estrabismo entre os parentes de Ronaldo e de Jacira.

CONCLUSÃO


Todas as demais hipóteses, exceto a da fraude, poderiam ser reconsideradas, pois todas elas encerram certa possibilidade de se ajustar a um outro item da tabulação. Entretanto, a da reencarnação é, sem dúvida, a que melhor se aplica ao presente caso, pois ajusta-se a todos os itens, sem exceção.

Somos de opinião que há suficiente evidência de que Ronaldo renasceu como Jacira.

3 comentários:

  1. Olá! Gostaria de citar o relato, pois é bem claro, mas quem é o autor?

    Grata,

    Cecília Vanessa
    cecilia.vanessa@gmail.com

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    Respostas
    1. Cara Vanessa.
      Passou tanto tempo, que provavelmente você nem verá essa resposta.
      Me perdoa não ter respondido.
      É que acabei criando outro blogue, e esse ficou sem a devida atenção.
      Esse texto é de Hernane Guimarães Andrade, extraído do livro Reencarnação no Brasil, 8 casos que sugerem renascimento.
      outro blogue:
      www.assuntoespirita.blogspot.com.br

      Áudio de minhas palestras:

      https://www.youtube.com/playlist?list=PLRdyTdJb-mTDXuSWCE0mE3-9-6cRd2aqV

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  2. Todos os causos sobre “Reencarnações” não passam de “memórias ancestrais”, onde algum sentimento, pensamento ou lembrança importante emergiu da Memória que herdamos dos nossos antepassados...
    Mas que estão sendo erradamente considerado como alguma mitológica Vida passada.

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